Gestor educacional, o que você pode aprender com o exemplo da Finlândia?
Prof.Me.Max Franco
O pensador e historiador Yuval Harari afirma, no seu célebre “Homo Deus”, que nos equivocamos quando fazemos todo um esforço para formar as novas gerações em algumas habilidades, as quais, num futuro bem próximo, devem ser substituídas por um novo software e por um aplicativo de celular. É por isso que Harari, Freire e Ausubel, além de outros educadores de renome, atestam que a pauta mais necessária para a educação atual é a flexibilidade, ou a eficaz prática de “aprender a aprender”. Essa capacidade tem sido batizada com o binômio flexibilidade cognitiva.
A palavra flexibilidade é – hoje mais do que sempre – obrigatória para qualquer gestor, ainda mais educacional e muito mais se for em território nacional. Afinal, qual foi a escola brasileira que não teve que fazer mil contorcionismos no período da pandemia? Qual não está fazendo hoje nessa tentativa alucinada de pôr o trem, com todos os vagões, nos trilhos?
Para tal, faz-se necessário uma atuação inovadora e sistemática dos novos gestores de educação. Uma gestão que incentive a gestação de um ecossistema de engajamento e inovação dentro das estruturas das instituições de ensino.
Infelizmente, há obstáculos e não são pequenos quando falamos do desenvolvimento deste ambiente renovado e criativo dentro de qualquer casa de educação, seja no Brasil, seja em qualquer país. A verdade é que existem, sim, sistemas educacionais em algumas regiões do mundo que se destacam pelas respectivas propostas inovadoras nas áreas pedagógicas, os sistemas educacionais finlandês e estoniano, além de inúmeras experiências exitosas espalhadas em diversas áreas do planeta, demonstram que a estrada rumo a uma nova educação já vem sendo trilhada por diversos ensinantes e aprendentes.
A Finlândia, por exemplo, fundamentou boa parte da sua revolução educacional, iniciada nos anos 70, em uma formação profunda e sistemática dos seus professores.
Já sabemos, então, que a formação continuada de professores como também das equipes técnicas é coisa das mais urgentes na atualidade e pouca coisa pode ser tão melancólica do que a atitude de um educador que se considera completo, absoluto, sem nada mais a aprender. Somos profissionais do conhecimento e conhecimento é feito de uma matéria de natureza infinita. Há sempre, portanto, tanto a se aprender. Precisamos – todos os dias – nos reapaixonar pelo ato de aprender sob o risco de perder o apreço pelo ato de ensinar.
Ensinar e aprender, afinal, é coisa humana há centenas de milhares de anos. A humanidade só evolui porque é capaz de aprender com outros da sua espécie. Ensinar e aprender, então, sempre foi uma ação capaz de mudar o mundo.
Nesse novo caminho, precisamos encarar essa estrada, nós, ensinantes e aprendentes, todos, com igual disposição. Precisamos aprender a aprender, aprender a ensinar, ensinar a aprender e a ensinar a ensinar. Ensinaremos e aprenderemos de maneira muito menos monolítica. Os papéis de cada um, professores, estudantes, famílias e demais profissionais de educação, serão mais fluidos, dialéticos, colaborativos, curiosos e solidários.
Isso mesmo: solidário.
Não foi incomum no período de pandemia o ato, repleto de respeito e empatia, de professores menos versados em tecnologia terem recebido ajuda dos próprios alunos. Este é o modelo a ser seguido. A maior conquista das gerações atuais no que se refere ao processo de ensino-aprendizagem é que este seja adotado como um projeto coletivo e participativo.
É natural que alguns educadores possam se sentir inseguros e com medo de perder autoridade em virtude desse novo comportamento. O(a) professor(a), portanto, deve entender que ele(a) jamais deve aceitar qualquer milímetro de corrosão da sua imagem diante da sua sala de aula. A sua função de senhoridade, curadoria, liderança e experiência nunca deve ser questionada, mas, ao contrário, todos os atores envolvidos nessa peça precisam apoiar e sustentar continuamente a condução de quem é, naturalmente, o guia desta viagem de descobrimentos.
A questão é que os fundamentos que engendram essa autoridade não são mais os mesmos de outrora. Não é apenas por conhecimento técnico ou, pior, pela mera coerção sustentada por séculos de tradição. Esta ascendência é alimentada pela compreensão mútua de que a aprendizagem deva ser uma construção coletiva, simbiótica, sinérgica, sistêmica e perene.
Aprender deve se tornar – cada vez mais – mutirão.
Professor- Mestre Max Franco é gestor educacional e um dos diretores pedagógicos do projeto Educadores pelo Mundo, que leva educadores de todo o Brasil para conhecer os sistemas educacionais de diversos países. Em 2023, os Educadores pelo Mundo conduzirão grupos para a Finlândia e Portugal. Conferir no www.educadorespelomundo.com.br