Diário de bordo
Em 2014, fui conferir dois torneios juvenis de futebol no Norte do mundo, o Helsinki Cup e o Gothia Cup. Eventos extraordinários, os quais mereceriam maior exposição pelo cunho esportivo e multicultural que promovem. Aproveitei, então, a oportunidade para conhecer melhor a região, a cultura local e os seus respectivos projetos de Educação. Afinal, estamos falando, nada mais, nada menos, dos maiores índices educacionais de todo mundo.
Pois bem, aqui registro alguns fatores que me impressionaram deste lado quase sempre muito frio do mundo:
O que esperar de um povo que tem o polêmico hábito de levar os bebês para fora da casa durante o inverno bestial desta região (chega aos 30 graus negativos!) só para a criança ir se acostumando?
Em Helsinki, as relações de homem e mulher são para lá de igualitárias. Há muitas loirinhas de olhos azuis fazendo trabalhos braçais e homens na cozinha.
Na verdade, de cozinha, todos – de alguma forma – entendem por aqui. É que culinária é matéria obrigatória na escola, não só porque é comumente relacionada aos conteúdos pedagógicos, mas, principalmente, porque o comum aqui é que o jovem mal saído da adolescência vá trabalhar (realizando alguma tarefa humilde), morar fora da casa dos pais e, assim, dar conta da própria vida. Aprender a cozinhar é uma questão de sobrevivência!
Outra coisa que me impressionou muitíssimo aqui é o respeito aos mais velhos e, principalmente, aos professores. Educador por estas bandas goza de imensa consideração. (Aqui começamos a desvendar a razão dos excelentes resultados educacionais desta gente!). Professor aqui ganha muito bem e precisa estudar muito. Para entrar, por exemplo, numa faculdade de Educação, há 800 vagas apenas para 6000 mil candidatos. Além disso, só estudantes com mestrado podem pleitear este emprego. Qual o segredo deste sucesso? Simples: estudo gratuito, interesse dos alunos, pais engajados no projeto, grade curricular reduzida e com muitas vivências práticas e, por fim o mais importante: professores bem pagos, valorizados e muito especializados.
O povo finlandês é de um comportamento ético que causa admiração. Vou contar um fato: eu, brasileiríssimo, fui atravessar a rua fora da faixa. O que ocorreu? Um cidadão me chamou a atenção. Mas, não havia carros na rua, eu pensei. Era uma da manhã! Não importa por aqui. Eles, por sinal, costumam esperar o semáforo de pedestre abrir para atravessarem a rua, a qualquer hora e sem trânsito algum! Fácil de se entender e de se aplicar em terras tupiniquins, não é?
É tudo um paraíso na Finlândia? Não é não. Aqui vive um povo que também sofre com as drogas, com a bebida e, pior, suicidário. As taxas de suicídio filandesas são enormes, as maiores do mundo. Há quem atribua ao frio e à escuridão dos muitos dias sem sol, comuns nestas latitudes. Mas, a Rússia, o Canadá, a Suécia e outros países passam pela mesma agrura sem existir tanta gente, literalmente, com a corda no pescoço. Então o que ocorre por aqui? A minha teoria é simples: enquanto nós, brasileiros, padecemos pela sociologia, eles sofrem com a geografia. Devíamos exportar alguns dos nossos problemas para eles. Eis a solução. O tédio também mata. O ideal seria um escambo contínuo e generalizado de méritos e de deméritos entre Brasil e Finlândia. Quem sabe, assim, resolveríamos os nossos problemas trocando uns probleminhas ali, outros, acolá.
De toda a forma, há muito para se aprender com o povo finlandês. Depois volto com outras impressões sobre esta gente extraordinária.